Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA


Foto: filmow.com

 

 

THAISE MONTEIRO

 

 

Thaise Monteiro possui Bacharelado em Letras, com habilitação em Estudos Literários (2011) e Licenciatura em Letras, com habilitação em Língua Portuguesa (2011), ambas as graduações concluídas na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Goiás, onde realizou o Mestrado (2014) e o Doutorado (2018) em Letras e Linguística na área de concentração dos Estudos literários. Em 2016 e 2017 atuou como Professora Substituta na área de Literaturas de Língua Portuguesa na Faculdade de Letras da UFG. É escritora e fundadora da Cia de Arte Poesia que Gira, onde atua como atriz, assim como em outros grupos teatrais da capital goiana.
Fonte: Escavador

 

 

 

 

MONTEIRO, Thaise.  A casa da rua 1013. Goiânia, GO: Arte e Poesia de Goiás, 2020.  Caixa de madeira, páginas de papel e fotos da autora.   ISBN 978-85-993-353-9-3  Livro de artista, artesanal.
100 exs.
Ex. 49/100 da biblioteca particular de Salomão Sousa. 

 

 

ABAYOMIS

NOS LIMITES DO QUARTO DE COSTURA
ENTRE TRAPOS TOSSES E FLATOS
OS BRIQUEDOS INFANTIS IMAGINADOS
TUDO ERA RETALHO COLCHA TAPETE VESTIDO SAIA
MEMÓRIAS COSTUARADAS EU MESMA
ALINHAVAVA EM UM SÓ PEDAÇO

NUM ENCONTRO PRECIOSO
OS PANOS VIRAVA NÓS
BRAÇOS PERNAS CABEÇA
E A FORMA INDELICADA DE BONECA PRETA
SURGIA DAS HABILIDOSAS MANOBRAS
DAS MÃOS VELHAS DA MULHER
QUE EU TINHA COMO VÓ

ASSIM ME FIZ CRIANÇA
BRINCANDO SEM BRINQUEDOS DE JOELHOS
MAIS LARGOS QUE AS PERNAS DE CORRER
PELES SECAS ACINZENTADAS COM MÃOS
APARELHADAS PARA O CRIAR
CORPO PREPARADO PARA CRESCER
E TORNAR-ME ALGO ALÉM
QUE A NEGUINHA FIA DO SÉRGIO
MULHER QUE SABE DE CORES
DE PANOS E DE PELES
QUE ATRAVESSA O TÚNEL ESCURO
DA PRÓPRIA HISTÓRIA PARA NOUTRA
PONTA DA LINHA ENCONTRAR
LUZ NO RECONHECIMENTO
DA FORÇA NA FORMA
NEGRA DAS ABAYOMIS
QUE FICARAM NA MEMÓRIA



CASA INTERDITADA

A DEFESA CIVIL CONDENOU A CASA
FISSURAS TRINCAS RACHADURAS DERAM
OS PRIMEIRO SINAIS
INFILTRAÇÕES DO LADO ESQUERDO
RESULTADO DE UMA EXCESSIVA UMIDADE
PAREDES DESCASCADAS
ASSOCIADAS A UMA IDADE DA EDIFICAÇÃO
ALÉM DISSO UMA PAGASTRITE MODERADA
UMA RINITE CRÔNICA
UM REFLUXO INCURÁVEL
O REVESTIMENTO INTERIOR
DO ÚTERO FORA DA CAVIDADE UTERINA
UMA MIOPIA GRAVE
UMA ANSIEDADE EXAGERADA
COLOCAM EM RISCO AS CONSTRUÇÕES VIZINHAS
PARCIALMENTE INTERDITADA
JAMAIS ABANDONADA ACUMULA
MATO MOFOS SE ALGUNNS BOLORES
DESABA AO FIM DE CADA DIA
REFAZ-SE NO OUTRO
E PERMANECE

 

 

 

VOZ MONCULAR

ESTE MEU OLHO VAGO
JÁ NASCERA CANSADO
CRESCI ASSIM COM UMA
DAS VISTAS CADA VEZ MAIS MUDA

ESTE MEU OLHO AMBLÍOPE
DESDE A INFÂNCIA SEM CURA
JAMAIS TEVE FOCO ACERTADO
JANELA INSTALADA SEM PRUMO

ATRAVÉS DESSAS MINHAS
ENVIESADAS ESQUADRIAS
O MUNDO PASS DESCONCERTADO
TODO ESSE ESPANTO
NOS DESCAMINHOS DA VIDA
DESGASTOU-ME AINDA MAIS AS RETINAS
RESTOU-ME HOJE ESSA VOZ MONOCULAR
E A CERTEZA DA CEGUEIRA FUTURA

 

 

 

DE MODUS OPERANDI

 

MONTEIRO, THAISE. RFEDITORA, 2017
ISBN 978-85-66875-31-7

 

 

MUITOS DOS LIVROS

enfeitam as camadas da pele

 

Estante (s.f.) sequência vertical

de ossos da costela

que apoiam as carnes

que um dia serão lidas  

 

 

NOTÍCIA

 

Menino

menino fuzilado nunca foi

nem nunca será um poema

não será poema toda a barbárie

que voa

atravessa a rua

quebra a vidraça

e descansa sobre a pena de poetas

palavras mortas de dicionário

 

Serão notícias não poemas

notícias amareladas presas entre os dentes

ruminadas dia após dia

 

Menino

menino fuzilado

e o choro irregular de suas negras mães

descem feito enxurrada

pelos becos pelos guetos

contidos impedidos enterrados

e fatalmente esquecidos 

 

 

CAIXA

 

Difícil cumprir a sina

de escrever o que se sente

quando tudo é aperto

 

Escrever uma pequena caixa

dentro da qual retangularmente

me contorço e gemo

porque tudo é aperto

 

uma caixa sem sua alma

o sapato velho nunca usado

 

Ser uma caixa

um depósito de pequenas

lembranças e badulaques

sem serventia

Objetos-poesia numa caixa

como um maço

um box de 20 cigarros mentolados

com 4700 substâncias tóxicas

e nicotina

sua fumaça mórbida contendo

dependência física e psíquica

consumida num aperto

nessa enorme caixa redonda

onde segundo após segundo

se perde a vida 

 

 

OUTRO DESEJO

 

Também não sou matrona

mãe de futuros homens

de bem e de família

sou é mulher de boteco

cheia de vontades e vícios

Faxino a casa em que habito

o banheiro em que defeco

lavo as roupas que visto

Não passo bem

quando sofro berro

e o sangue me salta aos olhos

cultivo flores sobre a pele

as dores do mundo me embargam a voz

mas canto

Quando cantar um livro com meu nome

vou levá-lo a uma zona

a um beco

a uma esquina

para mastigar os dissabores da vida

com a boca do ânus e da vagina

deslumbrante e determinada como uma puta 

 

 

De À MODA DE 22 

 

MONTEIRO, Thaise e BUARQUE, Jamesson
Patuá 2021
ISBN 978-65-5864-083-7

 

 

AVANT-GARD

 

Marchem à frente

o destino é a grande guerra

contra as regras herdadas de outro século

normas rígidas da ilógica lógica da razão

 

Libertem-se das pretéritas correntes

rumo ao sonho ao futuro e além

sigam firmes empurrando

com outras cores e formas

a arte para outras direções

a beleza agora é outra

o horror dos corpos em putrefação

 

Marchem à frente oh precursores

da terra arrasada

da estética da demolição

homens prédios espíritos des

fragmentados pela ponta de aço

de seus pinceis e canetas

nem toda guerra é vã

 

 

EXPERIMENTO SURREALISTA

 

A minha avó criava lesmas

nos cantos dos olhos

e cultivava muito sinos

no canteiro sem armadura

no fundo do quintal

 

Os sinos sopravam um cheiro

ocre de mangas podres

e badalavam três vultos

que se equilibravam sobre

os muros na hora do ângelus

 

Com suas guelras minha avó

flutuava pelos verdes

corredores da casa

resmungando tudo

que é qualidade de pedra

 

Passei a infância engolindo pedras

Dela nada herdei

 

nem mesmo essas nuvens

ressequidas sob as unhas

a não ser as lesmas

que certas noites choro

toda vez que minha avó

foge do retrato dos mortos

para habitar meus sonhos

 

 

ABAPORU

 

Do grupo dos cinco

com Anitta Oswáld Mário e Del Picchia

ela Tarsila do movimento canibalista

pintou retrato anti-humano de nossa gente

 

Pés e mãos desproporcionalmente

dizem do trabalho braçal

e a cabeça sem tamanho

retrato dos donos do dinheiro

e da elite intelectual

 

Deformado pela ruptura

afastado de sua própria

condição de humana

com seu grotesco traço-corpo

animalesca face

repousa os saberes do pé

na pátria de los Hermanos 

 

 

NATUREZA MORTA SOBRE UM CANAL

 

Alguém apague esse fogo

fogo, Pagu

fogo dos peixes alastrado no canal

canal de um mar monótono

de um coração pregado

na parede feito um quadro

há algas, Pagu, e dedos parados

na mesma frase

nereidazinhas quase

verdes se fosse o caso

nada mais és que mulher

se julgando amada ao som

de uma triste valsa

poetas não morrem, Pagu

permanecem os jornais e as cartas

e essas mãos enterradas

no espaço branco de futuros versos

são corvos vertidos na fumaça salgada

do canal cheio da maré monótona

fogo coagulado nas ondas do mar.

 

*

 

VEJA e LEIA outros poetas de GOIÁS em nosso Portal:



Página publicada em fevereiro de 2021


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar